
Amazonas – Todos pareciam admirados o nome do Amazonas ainda não ter aparecido envolvido em algum tipo de corrupção, a nível nacional, mas essa dúvida acabou. Já aparece na lista da corrupção a Lava jato o gasoduto de Coari, na calha do Rio Solimões, no Amazonas.
Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), repassado à Justiça Federal, nas investigações da operação Lava Jato, o executivo da empresa Toyo Setal, Júlio Camargo, afirmou que intermediou o pagamento de R$ 2 milhões em propina ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, indicado pelo PT para o cargo de alto escalão.
A propina, de acordo com o delator, foi pelo contrato firmado pela Camargo Corrêa para executar trecho da obra do gasoduto Urucu (Coari)-Manaus, controlado pela Petrobras. Segundo ele, o contrato assinado somava R$ 427 milhões.
A propina, disse Júlio Carmargo, saiu dos R$ 15 milhões que sua empresa, a Piemonte, recebeu, em 2010, de comissão por prestar consultoria à Camargo Correia.
Na denúncia do Ministério Público Federal (MPF) que embasou as novas prisões da operação Lava Jato, os procuradores da República detalham depoimentos de dois delatores que afirmam ter pago, ao menos, R$ 154 milhões em propina a pessoas apontadas como operadores do PT e do PMDB dentro da Petrobras.
Garantia de obras
O suborno foi usado para garantir que grandes empreiteiras do País executassem obras bilionárias em, pelo menos, seis projetos da estatal do petróleo.
As informações repassadas pelo MPF à Justiça Federal do Paraná foram relatadas pelos executivos Júlio Camargo e Augusto Ribeiro, da Toyo Setal. Eles fizeram acordo de delação premiada para tentar garantir uma eventual redução de pena.
Os dois delatores disseram que os pagamentos de propina tinham como destinatários o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, indicado pelo PT para o cargo de alto escalão, e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, apontado como operador da cota do PMDB no esquema de corrupção que tinha ‘tentáculos’ na petroleira.
Duque foi preso na última sexta-feira, 14, e está detido na Superintendência da PF em Curitiba. Fernando Baiano é um dos últimos dois foragidos da Lava Jato.
Gastos

Documento já exibidos pelo Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, mostraram que a Petrobras gastou o dobro do valor que deveria para construir um gasoduto.
O gasoduto liga Urucu a Manaus e tem 663 quilômetros de extensão. Sob comando da Petrobras, foi construído para aumentar a oferta de gás para geração de energia na Região Norte do País.
Em 2006, o contrato foi assinado. Em 2008, o gasoduto deveria começar a funcionar, mas só entrou em operação em 2009, com um ano de atraso.
Preço da obra
O projeto de execução da obra foi reformulado, o que elevou o preço inicial de R$ 2,4 bilhões para R$ 4,4 bilhões. A Petrobras foi alertada.
Engenheiros da própria empresa avisaram os gestores sobre o que chamaram de explosão de gastos e falta de capacidade do consórcio responsável pela obra.
O Jornal Nacional teve acesso à troca de e-mails entre eles. No dia 29 de fevereiro de 2008, o então gerente de projetos da Região Norte, o engenheiro Gézio Rangel de Andrade, chama a atenção do gerente executivo, Alexandre Penna: “O foco da questão é que as empresas consórcios construtores dos três trechos não estão, como prevíamos, demonstrando capacidade para a realização das obras, devido à falta de experiência em dutos na Amazônia”.
Dias antes, o engenheiro alertou sobre os sucessivos aumentos no valor do contrato: “Manifesto a minha preocupação quanto à continuidade do empreendimento sob sua gestão, principalmente quanto aos pleitos de aditivos de valores”, afirma Gézio Rangel.
O destinatário, Alexandre Penna Rodrigues respondeu: “Gézio, neste assunto não há muito o que eu possa fazer a essa altura”. Seis dias depois, Gézio insiste: “Estão reivindicando novo prazo e aditivo, pasme, no valor de R$ 400 milhões!”
No dia 29 de fevereiro, o engenheiro reforça: “Não se pode perder o foco, o enorme aumento da tarifa é devido ao fato gerador do explosivo valor do aditivo, quase igual ao valor do contrato assinado, que já era considerado excessivo”.

O aumento da tarifa foi relatado em uma das auditorias do Tribunal de Contas da União em que a obra é citada. A constatação é que, dois anos depois da conclusão do gasoduto, o preço da parcela de transporte de gás ainda estava 77% maior. Quando foi idealizada, a obra deveria servir para baixar o preço do gás e, em consequência, o custo da energia elétrica.
Negócio lucrativo
A Petrobras declarou que considera o negócio lucrativo, que as condições previamente acordadas remuneram os investimentos no gasoduto e atendem às taxas de retorno. A estatal afirmou, ainda, que foi necessário alterar a metodologia num dos trechos do gasoduto para acelerar os serviços.
O engenheiro Gézio Rangel de Andrade foi “colocado na geladeira” na Petrobras por se opor ao superfaturamento da obra do gasoduto Urucu-Manaus, na Amazônia. A afirmação é da viúva dele, Rosane França. Gézio morreu vítima de ataque cardíaco.
Segundo ela, pessoas da estatal tentaram constranger seu marido a aprovar aditivos para a obra. Ele não concordou e foi exonerado do cargo, permanecendo por dois anos sem qualquer função. A viúva não cita nomes, mas em e-mails enviados aos seus superiores, aos quais a reportagem teve acesso, Gézio reclama da diretoria de engenharia, comandada por Renato Duque, que negociava com as empreiteiras.
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