Após nove dias de greve, caminhões começam a circular livremente em todo o país

Alguns circulam com escolta, outros livremente. Mas ainda há manifestantes nas rodovias que ameaçam caminhoneiros que querem trabalhar.

Brasil – Depois de nove dias de greve, os caminhões começaram a circular em todo país, alguns livremente, outros com escolta porque ainda há manifestantes que ocupam as margens de rodovias e ameaçam caminhoneiros que querem trabalhar:

“Passa ninguém aqui, ó. Não vai passar ninguém hoje aqui, meu filho. A polícia está aqui, nem a polícia pôde fazer nada”.

“E se eu pegar a chave do seu carro agora e jogar no mato?”

“Eu tenho criança pequena em casa”.

“Pô, mas como é que você faz um negócio desses, cara? Desce do carro. Desce do carro! Puxa o freio do carro aí e desce do carro”.

Caminhoneiro contra caminhoneiro.

Em Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, grevistas impediram a passagem de 300 caminhões e caminhonetes com frutas, verduras e legumes.

Motoristas que queriam trabalhar usavam aplicativos de mensagens para ter informações.

“O pessoal está tentando passar agora, entendeu? Esperar para ver como vai ficar aí até mais tarde, mas vai ser difícil passar”.

Recebiam de volta respostas ameaçadoras.

“Mandou perguntar aí quem está a fim de ir embora aí, ó. Seguir viagem. Quem tiver a fim pode ligar pra casa que eu pago o caixão, porque vai morrer”.

Em outro ponto, grevistas saquearam a carga de um dos caminhões que tentou passar pelo bloqueio.

“Olha aí, dando couve-flor para o povo. Couve-flor apreendida aqui, caminhão de couve-flor dando para o povo. Distribuindo para o povo”.

No começo da madrugada o Exército chegou ao local.

“O Exército veio fazer a escolta dos verdureiros. Os verdureiros estão tudo assombrado. Não ia passar ninguém, não ia passar ninguém”.

Os caminhoneiros protestaram. Depois sentaram na estrada. Um policial negociou a liberação da pista.

Quase três horas depois, os 300 caminhões saíram em comboio até a Ceasa do Rio.

A Polícia Rodoviária Federal diz que só em três pontos do Brasil o bloqueio dos grevistas é total: no Distrito FederalCeará e Minas Gerais. A polícia afirma ainda que em outros 616 pontos pelo país há concentração de manifestantes, mas sem prejuízo para a circulação. Não é o que a equipe do JN encontrou quando chegou às manifestações.

Na Rodovia Presidente Dutra, no Sul do estado do Rio, os grevistas mantêm o bloqueio. Um motorista – que não mostra o rosto por segurança – diz que está impedido de sair pelos outros caminhoneiros:

“Eles não sabem o que eles querem mais. Acho que já tem interesse político no meio e hoje faz nove dias que estou aqui. Está acabando dinheiro, roupa. Se sair nós somos agredidos. Eles falam que pode sair, mas se sair nós somos agredidos então tem que aguardar para ver o que vai acontecer”.

Em Itaboraí, na região metropolitana do Rio, os grevistas só liberavam a passagem na BR-101 depois de ver a nota fiscal do caminhão.

Perto dali, do outro lado da pista, a polícia negociava a retirada total de mais um bloqueio. Mas um caminhoneiro que estava retido pelos colegas não se sentia seguro de sair nem com a promessa de escolta:

“Quebraram o para-brisa de outro colega nosso ali na frente. Não adianta essa escolta. Só vai te levar lá na frente. Depois quem vai te dar segurança?”

Na maior refinaria da Petrobras, em Paulínia, no interior de São Paulo, a escolta não estava impedindo que os manifestantes exigissem ver a nota fiscal para liberar os caminhões.

Só na manhã desta terça-feira (29), com o reforço do policiamento, os motoristas passaram a circular livremente.

Na BR- 040, perto de Luziânia, em Goiás, motoristas impedidos de circular aproveitam a passagem de um comboio com escolta e foram para a estrada. Houve confusão, mas a polícia controlou a situação.

Perto de Feira de Santana, na Bahia, grevistas atearam fogo em dois caminhões que transportavam ração.

A Associação Baiana de Avicultura reclama que apenas uma das sete escoltas prometidas pelo governo funcionou.

A Associação Brasileira de Proteína Animal denuncia que a ação de alguns grupos tem se tornado cada vez mais agressiva e declara que ainda há bloqueios que impedem a circulação de animais vivos, rações e produtos pelo país.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima em R$ 6,6 bilhões os prejuízos para os produtores rurais com os nove dias de bloqueio nas estradas

O jornalista Gerson Camarotti revelou que empresas do setor agropecuário afirmam que vão cancelar contratos com as transportadoras caso não haja a normalização imediata dos serviços.

Na BR-101, perto de Alagoinhas, na Bahia, o Batalhão de Choque usou bombas de gás para dispersar os manifestantes que tentavam bloquear totalmente a rodovia.

Em Aparecida, um policial rodoviário negociou e conseguiu, no início da tarde, que os grevistas liberassem quem queria pegar a estrada.

O ministro da Segurança, Raul Jungmann, garantiu que os caminhoneiros que abandonarem a greve terão segurança para seguir viagem.

“A orientação que nós demos é de que todos aqueles que queiram prosseguir ou se deslocar têm que ser escoltados pela Polícia Rodoviária Federal. Tem que proteger todo e qualquer caminhoneiro, independentemente da carga que queira se deslocar, e assegurar a sua integridade”, disse Jungmann.

Na BR-101, em Joinville, a Polícia Rodoviária Federal foi até um dos maiores dos pontos de manifestação do Norte de Santa Catarina para dar segurança a quem quisesse sair. Mas um grupo de caminhoneiros cercou o carro da polícia e começou a gritar:“Vamos ficar, vamos ficar”. Dos 700 caminhoneiros só um deixou o bloqueio.

Na Rodovia Régis Bittencourt, na Grande São Paulo, os motoristas também têm dificuldade de deixar a manifestação.

“Saiu um caminhão lá em cima, uma carreta, carregada agora há pouco. Nem desceu a rampa, tomou as pedradas e voltou para trás”.

Outro caminhoneiro teve mais sorte. Com a escolta da polícia está indo para casa depois de uma semana parado no bloqueio.

“Nada melhor do que estar dentro da sua casa, junto com a sua família”, disse ele.

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