Rio Branco, AC – O Governo do Acre vai plantar 10 mil hectares de seringueiras. O incentivo à produção de borracha natural por parte do governo do Acre compõe um cenário nacional de apoio à criação dos seringais de cultivo. Em 34 municípios dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e São Paulo, o projeto “Cidade da Borracha” pretende plantar 20 milhões de seringueiras distribuídas em 40 mil hectares.
O Governo do Acre minimiza o impacto desse projeto do Centro-Oeste/Sudeste. E tem números. O Brasil importa cerca de 280 mil toneladas de borracha natural por ano. Isso movimenta algo em torno de R$ 2 bilhões.
“Se alguma coisa causa impacto na produção brasileira é a importação”, afirma o secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis, Carlos Ovídio, mais conhecido como “Resende”. “O impacto de mais 40 mil hectares é praticamente nenhum. E dos nossos 10 mil hectares também o impacto é pouco diante desse contexto”.
Resende lembra que a concorrência com a borracha da Ásia é muito forte. Sobretudo devido ao baixo custo de produção existente lá. E cita um exemplo. “Na visita que fizemos à Malásia, o trabalhador não tem carteira assinada. Ele tem registro de emprego na fábrica, recebe o pagamento no fim do dia. E no dia seguinte, se ele não vier, ele nunca mais trabalha naquela fábrica e pronto”.
Hoje, a Ásia tem participação dominante no mercado mundial com 70 a 75%. Competir com essa base não haveria eficácia nem se o Brasil triplicasse os 50 mil hectares anunciados.
No Acre, os investimentos no setor têm impacto mais vinculado aos aspectos sociais do que de estratégia de mercado. Resende discorda. “Hoje, o investimento em seringueiras de cultivo tem natureza econômica tanto é que há investidores ‘financistas’ atrás disso. Não é coisa para pequeno investidor”, avalia. “Isso sem contar que plantio de seringa é também plantio de madeira”.
Em recente declaração ao jornal O Estado de S. Paulo, o acionista da TAM, João Amaro, irmão do fundador da companhia, Rolim Amaro, destacou a madeira da seringueira como mais uma vantagem do plantio em cultivo. “Quando a seringueira deixa de produzir, ainda é possível vender a madeira”, frisou. “Se você cheirar uma caneca de látex lá na árvore, vai sentir um odor horrível de carniça, mas para quem entende o valor da cultura isso é perfume Channel N.º 5”, diz.
No projeto Cidade da Borracha, o hectare de seringueira plantada tem custo estimado em R$ 22 mil. No Acre, para a formação do seringal de cultivo, o custo é de R$ 6 mil e R$ 6 mil para manutenção até a primeira extração (que ocorre entre seis e sete anos).
Mas, para onde irá ser escoada a produção dos 10 mil hectares de seringa? Para o governo, essa é uma pergunta ainda sem uma resposta definida. A prioridade é tornar produtivos os 400 mil hectares de área degradada.
Indústria de beneficiamento de GEB será instalada em Sena Madureira
Até o fim deste ano, nas regiões do Baixo e Alto Acre, o governo pretende finalizar o plantio dos cinco mil primeiros hectares, associados à instalação de uma indústria de beneficiamento de borracha em Sena Madureira.
O investimento é estimado em R$ 7 milhões e é feito junto com a Cooperacre. A região foi escolhida porque está em Sena Madureira a maior densidade de seringueiras nativas do Acre.
Para o governo do Acre, o látex centrifugado é um produto prioritário e que não é feito na Malásia e outras regiões da África. Talvez possa estar nesse produto a conquista de um seleto nicho de mercado.
A capacidade de beneficiamento de GEB nessa indústria que será construída em Sena Madureira tem capacidade de beneficiamento de uma tonelada de GEB por hora.
Brasil constrói cenário favorável ao plantio de seringueiras
Com tanta importação, o contexto econômico interno é favorável à plantação de seringueiras. Sobretudo com a rentabilidade já percebida por grandes empresários.
O incentivo às seringueiras de cultivo é uma medida do Governo do Acre integra outro grande projeto chamado de Florestas Plantadas. Dentro desse programa, existe um fundo específico para reflorestamento previsto no Projeto do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bird).
É um fundo misto do qual o Estado não pode ser majoritário. Há previsão de participação do Estado da ordem de US$ 10 milhões. “O reflorestamento é tão rentável comparável a qualquer atividade agrícola”, contabiliza Resende.
Para o secretário-adjunto, o reflorestamento também tem vantagens comparativas ao manejo florestal. “Enquanto em um hectares de manejo colhe-se 15 metros cúbicos e volta trinta anos depois, em uma hectares de floresta plantada ele cresce 40 metros cúbicos de madeira”, compara Resende, inclusive sugerindo que parte dessa massa seja usada para polêmica produção de energia a base da queima de madeira.
Acre tem o maior desconto da borracha nativa no Programa de Garantia de Preços
Neste mês de maio, os agricultores familiares têm desconto no financiamento da cesta de produtos e de outras 16 culturas. São elas: arroz em casca natural, babaçu (amêndoa), borracha natural extrativa, borracha natural cultivada, cacau (amêndoa), cana de açúcar, castanha de caju, feijão, feijão caupi, juta malva (embonecada), leite, manga, pequi, piaçava (fibra), sorgo e umbu.
Seis estados têm incentivo e subsídios para a produção da borracha natural extrativa. O maior desconto está no Acre com 66,67%, seguido pelo Maranhão (53,33%), Mato Grosso (48,67%), Rondônia (44,44%), Amazonas (44%) e Tocantins (35,56%).
O desconto é concedido automaticamente pelo Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF), no momento em que o agricultor paga seus financiamentos de custeio e investimento.
A portaria de maio foi publicada na sexta (9), no Diário Oficial da União, pela Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Os preços de mercado têm validade para o período de 10 de maio a 9 de junho de 2014. O bônus de desconto tem como referência os preços de mercado do mês de abril de 2014.
O valor do desconto é abatido nos casos em que o valor de mercado do produto financiado está abaixo do preço de garantia – que equivale a remuneração dos custos de produção.
O desconto para a cesta de produtos corresponde à média dos bônus do feijão, leite, mandioca e milho.
Fonte: Portal Brasil / Foto: Divulgação