
Participei de várias oficinas de escrita literária.
A condição a que me impunha (e ainda me imponho) para freqüentá-las, era a de fossem “de grátis”. Por que dinheiro “nóis não tinha” e nem tem. E, ao contrário dito popular, “o que nada te custa nada vale”, todas, sem exceção, valeram e muito.
Participar de Oficinas de Criação Literária, têm-me proporcionado, um significativo aperfeiçoamento de técnica e estilo. E através de oficinas voltadas à crônica, descortinaram-se novos caminhos, por mim ainda pouco percorridos.
Antes da crônica, passei pelo conto. E foi sugestão para leitura: Horácio Quiroga; de quem, com franqueza, nunca tinha ouvido. Confesso que não sabia deste autor.
Fui à Biblioteca Pública, e lá, ao jovem atendente, que sentado estava à frente de um terminal de consulta, perguntei-lhe por Horácio Quiroga. E para facilitar-lhe a busca, complementei: Horácio com H e Quiroga com Q.
Sem pronunciar palavra, ele me olhou meio de soslaio. Nem pesquisa no terminal o fez.
Mudo, levantou-se, conduziu-me a uma estante e apontou-me a prateleira onde ficavam os livros (vários aliás) do referido autor. Calado, virou-se e se foi. Pensei com meus botões: que esquisito este jovem …
Eram muitos volumes e estavam todos bem manuseados. De tão sebosos, estavam impegáveis. E de novo com meus botões, pensei: não tocarei nestas coisas sujas …
E … e … num átimo, veio-me a frase: Parece que era só eu que não conhecia Horácio Quiroga.
Em outro átimo, lembrei-me de que, Zeca Pagodinho, só em 1998, veio a conhecer e gravar Jura (de José Barbosa da Silva – Sinhô) da década de 20. Este maxixe teve mais de 50 gravações. Mário Reis gravou-o em 1928. Foi cantado por Derci Gonçalves, em 1958, na chanchada Sonhando com Milhões.
“A gente morre e não vê tudo”, diz o dito popular.
Saí, enfim, em companhia de outro Horácio, o Quinto Horácio Flaco. Este sim novo em folha, limpinho, cheirando novo.
A caminho de casa, Nelson Rodrigues consolou-me, dizendo: “toda unanimidade é burra”.