Manaus, AM -O segundo dia do 4º Congresso Pan Amazônico de Oncologia, evento coordenado pela Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade vinculada à Secretaria de Estado da Saúde (Susam), foi marcado pela apresentação dos resultados finais dos seis trabalhos mais bem colocados na última edição do Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic), desenvolvido pela instituição, entre 2016 e 2017, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).
O evento começou dia 22, no Hotel Intercity Manaus (Adrianópolis, zona centro-sul), e segue até o próximo sábado (25/11).
Os estudos abordaram temas diretamente relacionados ao câncer, incluindo o levantamento do perfil dos pacientes da região e as terapias aplicadas através de protocolos próprios da instituição. Entre as análises, estão a associação do HPV aos cânceres de pênis e de colo uterino; a qualidade de vida sexual e a função erétil dos pacientes portadores de carcinoma de pênis submetidos a tratamentos adjuvantes; avaliação do uso de cateter venoso central totalmente implantados em pacientes oncológicos; o estudo do perfil nutricional de pacientes com câncer de cabeça e pescoço e o efeito abscopal de radioterapia pélvica.
Uma das pesquisas, de autoria do acadêmico de farmácia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Felipe Luz Torres Silva, revelou a presença do vírus HPV em 56% dos homens com câncer de pênis em estágio avançado, diagnosticados nos últimos três anos na FCecon. De um universo de 32 homens analisados, cerca de 9% tinham menos de 30 anos de idade. Dois deles foram submetidos a penectomias radicais (amputação de membro).
A mesma pesquisa apontou que cerca de 60% dos portadores da doença eram tabagistas ou ex-tabagistas, o que reforça a relação do fumo com a evolução da lesão.
A orientadora do projeto, farmacêutica Valquíria Martins, destacou que as lesões avançadas levaram pelo menos cinco anos para chegarem ao estágio crítico em que se encontravam no início do tratamento.
Cabeça e pescoço
Outro trabalho exposto nesta quinta-feira, fora do contexto do Paic, mas que apresentou relevantes resultados, foi desenvolvido pelo radioterapeuta Leandro Baldino, gerente do Serviço de Radioterapia da FCecon, com o suporte da acadêmica Paulyne Viapiana e sob a orientação da Dra. Kátia Luz Torres. Os resultados parciais mostraram que a maioria dos 150 casos analisados, desenvolveram algum tipo de câncer de cabeça e pescoço em função do consumo excessivo e associado do cigarro com bebidas alcoólicas, estando apenas 12% ligados à presença do HPV.
A pesquisa, que teve a duração de cinco anos, teve como propósito avaliar os tratamentos aplicados aos pacientes, incluindo radioterapia, quimioterapia e cirurgia, além da sobrevida dos mesmos. Cerca de 80% das pessoas selecionadas para o estudo são do sexo masculino e tem, em média, 55 anos.
Ética e comunicação
O ‘I Simpósio de ética/bioética em pesquisa oncológica’ e um ciclo de palestras sobre farmácia hospitalar, também fizeram parte da programação do segundo dia de Congresso. Receberam destaque durante as palestras, coordenadas pelo Dr. Paulo Benevides, odontólogo e coordenador do Comitê de Ética e Pesquisa (Cep-FCecon), a ética e o papel da comunicação na divulgação científica nas instituições que promovem pesquisa.
Benevides ressaltou que a escolha correta do formato da divulgação pode evitar equívocos ou polêmicas desnecessárias em torno dos temas relacionados à saúde que, geralmente, são de interesse coletivo e atraem a atenção de grande parte da população. Para ele, a divulgação deve ser feita de forma responsável, afinal, “estamos lidando com vidas”, reforçou.
O pesquisador e oncologista clínico do Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP), Dr. Gustavo Girotto, também ressaltou o tema e falou sobre os investimentos em oncologia, feitos pelo Governo Federal que, na opinião do especialista, ainda são insuficientes. Ele trabalhou o tema ‘A comunicação científica na pesquisa em oncologia e as indústrias farmacêutica e de equipamentos’.
Corroborando a tese, o mestre em comunicação pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luis Mansueto Filho, abordou as mudanças no jornalismo e a inclusão digital como fatores de transformação. Mansueto mencionou o atual formato dinâmico de produção da notícia e deu dicas de como proceder em assessoria de comunicação, para alcançar o público-alvo, sem que o conteúdo produzido perca a qualidade.
Temas polêmicos também foram destaque durante o ciclo de palestras, a exemplo da divulgação em torno da fosfoetanolamina sintética, que ano passado ocupou espaço significativo na mídia, levando pacientes de diversas regiões brasileiras a adquirirem o produto via judicialização, mesmo sem que a droga tenha sido submetida às etapas obrigatórias para a comprovação da sua eficácia.
O pediatra Dr. Plínio Monteiro, membro do Comitê de Ética da Ufam, também participou da roda de debates, abordando o processo de condução ética da informação por profissionais da área da saúde, aos pacientes oncológicos em tratamento, que devem ser orientados sobre as terapias disponíveis tanto na rede pública, quanto fora dela. “Afinal, o nosso maior objetivo é o bem estar do paciente”.
Farmácia
Paralelo aos debates, a uma rodada de discussões sobre o papel do farmacêutico em oncologia, atraiu grande público à sala 2 do evento. A condução ficou a cargo da gerente do Serviço de Farmácia da FCecon, Katyellen Freitas de Araújo. Na ocasião, a farmacêutica Celina Guimarães falou do processo de economia implantado na unidade hospitalar para otimizar o serviço de quimioterapia, com a melhor aplicação dos recursos públicos.
O farmacêutico e professor Kácio Felipe Souza também participou dos debates. Ao final, um minicurso sobre ‘A relação estrutura/atividade dos medicamentos antineoplásicos’ foi ministrado pelo farmacêutico bioquímico formado pela Ufam, Anderson Guimarães. A programação completa do evento está disponível em www.panamazonicodeoncologia.com.br
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