O dilema de Marina Silva

(Amazonianarede Veja)

Com risco de não obter registro a tempo de disputar eleições do ano que vem, partido da ex-ministra avalia outras opções, como o ingresso no PEN.

Os próximos dias serão decisivos para a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva e seu novo partido. Para disputar as eleições do ano que vem, a Rede Sustentabilidade precisa que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) defira o pedido de registro até 5 de outubro. Na prática, será preciso que a corte decida até o dia 3, data da última sessão antes do fim do prazo.

É real o risco de que a empreitada fracasse, e os próprios militantes da Rede sabem disso. Eles até definiram uma data para tomar a decisão final: 21 de setembro. Neste dia, a cúpula do partido vai se reunir para avaliar o cenário e, se for preciso, decidir sobre o ingresso em outra legenda.

O partido precisa que o TSE reconheça 491 000 assinaturas de apoio para obter o registro definitivo. A militância alega ter recolhido um número bem superior, mas acusa os cartórios eleitorais de atrasarem a conferência das rubricas. Até agora, menos de 400 000 assinaturas foram validadas. Apenas na última quarta-feira a Rede alcançou o número mínimo de nove registros em Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), outro requisito para poder funcionar.

A líder da Rede tenta demonstrar confiança: mesmo aos aliados mais próximos, Marina Silva diz que não pensa em plano B. Mas talvez seja uma boa hora para fazê-lo. O dilema estará na mesa em 21 de setembro: se não houver perspectivas reais de vitória no TSE, a solução vai ser buscar outra sigla para poder disputar as eleições do ano que vem.

Se a Procuradoria-Geral Eleitoral usar o prazo de dez dias para analisar o pedido e o relator escolhido para o processo no TSE não abrir mão do prazo de trinta dias para incluir a questão na pauta, a Rede já não tem chances de disputar as eleições de 2014.

Queixando-se dos prazos descumpridos pelos cartórios eleitorais, a ex-ministra tentou agilizar o processo ao pedir que o TSE analisasse o pedido mesmo antes da conclusão das etapas regionais. Não deu certo.

Oportunidade – Levando em conta o modelo político, com os efeitos das manifestações populares e da rejeição dos partidos tradicionais, Marina tem uma oportunidade singular: ela aparece consistentemente em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, com mais de 20% das intenções de voto e não muito distante da presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição.

O capital político, entretanto, dificilmente subsistirá se Marina permanecer mais quatro anos sem ocupar cargo público e com aparições apenas eventuais nos meios de comunicação. Por isso, a decisão sobre uma eventual alternativa ao registro da Rede ganha importância.

“Eu defendo que Marina vá para outro partido. Ela não perde nada, e pode até ganhar”, diz o deputado federal Domingos Dutra (MA), que deixou o PT na expectativa de aderir à Rede. O parlamentar afirma ser impossível antecipar a escolha da ex-ministra, mas diz que a recusa dela em tratar de alternativas é estratégica: “Se ela sinalizasse que está buscando outro partido, desmobilizaria a militância da Rede.”

Não há, entretanto, muitos espaços para abrigar a ex-ministra, que não possui o mais transigente dos temperamentos e tampouco poupa ataques aos partidos tradicionais.

Opções – Em 2011, o PPS se ofereceu para acolher a ex-ministra, mas as conversas não progrediram. Agora, o presidente do partido, o deputado Roberto Freire, diz que sua legenda não tem espaço para Marina: “Até propusemos fazer um congresso conjunto. Ela não aceitou e eu não vou, agora, me meter no partido dela. Ela mesma diz que não tem plano B”, afirma o parlamentar.

Um desacerto entre a militância marinista foi o que fez a ex-ministra deixar o PV após as eleições de 2010. O presidente do partido, José Luiz Penna, não teria dado o espaço combinado ao grupo de Marina. Dificilmente ela retornaria à sigla.

Uma opção seria o PEN, o recém-criado Partido Ecológico Nacional. A sigla, de pequeno porte, já ofereceu espaço para Marina e seu grupo político. Haveria três vantagens: por ser novo, o partido ainda não tem rejeição popular. Por não ter caciques, permitiria que a ex-ministra implantasse suas vontades sem grandes problemas. E a afinidade de causas – pelo menos no papel – facilitaria a aproximação.

O presidente do partido, Adilson Barroso, já pensou nisso e anunciou que aceita o grupo de Marina: “Eu passo a presidência nacional do partido para ela e garanto a candidatura à Presidência do país”, diz ele, que comanda uma estrutura ainda amadora. O partido, criado em 2012, tem sede no município de Barrinha (SP).

Adilson, que já conversou com emissários de Marina em duas oportunidades, deve se reunir novamente com integrantes da Rede na semana do dia 25 de setembro. Se até lá o TSE não tiver atendido ao pedido de Marina, o PEN pode ser a saída para que a ex-ministra dispute a eleição de 2014.

Sobre as dimensões reduzidas de seu partido, Barroso não vê problema: “Acredito que a Rede não seria maior do que o PEN”, diz ele. Barroso já tem até um vice para indicar: o senador Magno Malta (PR-ES), que tem se aproximado do PEN.

Marina Silva adota um linguajar curioso. Seus militantes são os “sonháticos”. A Rede não é um partido, é uma “ferramenta de participação política”. Mas, em poucos dias, talvez a ex-ministra tenha de adotar o pragmatismo que se recusa a aceitar. Ela precisará tomar a decisão entre ingressar em uma legenda ou permanecer mais quatro anos fora da política oficial.

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