
(Foto: El País)
Brasília – Em artigo no ‘El País’, ex-presidente ressalta a importância da integração na AL.
O ex-presidente Lula destacou a importância da integração latino-americana em artigo publicado na edição de quinta-feira (23) do jornal espanhol El País. Papel fundamental nesse sentido, ressaltou Lula, será desempenhado pela presidente recém eleita do Chile, Michelle Bachelet, cujas qualidades humanas e políticas, disse o ex-presidente, foram demonstradas em seu primeiro mandato.
Veja abaixo o artigo de Lula:
“Temos muito a ganhar em bem-estar e progresso se juntarmos os nossos destinos”, Luiz Inácio Lula da Silva.
O retorno de Michelle Bachelet como presidente do Chile é um acontecimento muito promissor para a América do Sul e América Latina. Suas extraordinárias qualidades humanas e políticas, ela mostrou durante seu primeiro mandato, de 2006 a 2010, e mais tarde como diretora de igualdade de gênero das Nações Unidas (ONU Mulheres), que lhe rendeu fama nacional merecida e internacional. Sua maneira de se dirigir – firme integradora e inclusiva – e seu compromisso com a promoção da liberdade e da justiça social fazem de Bachelet um modelo importante em nosso continente.
Sua vitória esmagadora no início de dezembro deixa claro que o povo chileno, como outros povos da região, deseja o desenvolvimento autêntico: o progresso social e econômico, mais riqueza e uma distribuição mais equitativa da riqueza, modernização tecnológica, menos desigualdades e direitos universais. Além disso, seu triunfo mostra que os chilenos estão ansiosos para ter uma democracia cada vez mais participativa.
Sua eleição também representa um impulso indubitável para o processo de integração na América Latina, Bachelet sempre deu apoio entusiasmado para a unidade política e o desenvolvimento comum na região. Basta recordar a sua contribuição decisiva para o estabelecimento e consolidação da União de Nações Sul-Americanas, uma organização que foi o primeiro em presidir, e a criação da Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos. Nunca houve muitos líderes latino-americanos comprometidos com este processo anteriormente.
Coincidindo com a segunda rodada da segunda eleição, eu estava no Chile para participar de um seminário internacional organizado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Instituto Lula, cujo conteúdo era apenas uma discussão sobre as perspectivas de integração.
Durante dois dias, 120 líderes políticos, sociais e intelectuais dos países da nossa área debateram a situação atual e propôs uma agenda concreta para o desenvolvimento e integração regional.
Tivemos discussões francas sobre o lugar da América Latina na economia mundial, a arquitetura política e institucional da integração, o papel da política social, em particular na luta contra a pobreza, os canais nacionais de produção industrial, os latinos, relações tributárias, fiscais e de energia, cooperação financeira e mecanismos de investimento, direitos humanos e direitos dos trabalhadores, a proteção do nosso patrimônio ambiental e diversidade cultural.
Houve um amplo consenso sobre a necessidade de integração, com um interesse prático para todos os nossos povos e países, independentemente da ideologia dos governos. No mundo, existem várias regiões no processo de integração, com a criação de blocos políticos e econômicos, e não haveria sentido que a América Latina e o Caribe, não avançassem nessa no sentido de uma união.
Nossos países têm vivido durante séculos num movimento de avanço e retrocesso, e todos nós sabemos quão desastrosa é essa atitude com implicações para a debilidade geopolítica e atraso econômico. A integração não é de todo um movimento contra os países mais desenvolvidos e industrializados, com os quais queremos reforçar as nossas relações em todas as áreas. A integração é uma forma de reafirmação da América Latina. Aprofundar o nosso processo de integração, na vida política, cultural, social e econômico, bem como a infra-estrutura é uma forma lógica e natural para tirar o máximo proveito da nossa proximidade territorial e cultural e descobrir as nossas vantagens competitivas. Além, é claro, por isso temos mais capacidade para garantir os nossos direitos em todo o mundo.
Todos concordam que durante a última década, temos feito um enorme progresso na cooperação. Eles aumentaram a confiança e o diálogo real entre nossos países, e, como resultado, temos sido capazes de formar a União de Nações Sul-Americanas e da Comunidade da América Latina e do Caribe. Nossas relações econômicas também foram estendidas consideravelmente. O comércio, por exemplo, cresceu a um ritmo notável. Em 2002, segundo a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina, o comércio intra-regional total da América do Sul foi responsável por US$ 33 milhões (aproximadamente US$ 24 milhões de euros) em 2011 foi de US$ 135 milhões. Durante o mesmo período, o comércio total na América Latina passou de US$ 49 milhões para US$ 189 milhões. As oportunidades de crescimento são enormes e representam um mercado de quase 400 milhões de pessoas e, até agora, não tendo sido explorado até o momento mais do que uma pequena parte da nossa capacidade de negócios.
O mesmo se aplica aos investimentos. As empresas da região estão internacionalizadas e investindo em seus vizinhos. No Brasil, há 10 anos, houve poucos investimentos industriais na América Latina. Hoje existem centenas de plantas industriais financiadas pelo Brasil em mais de 20 países. E, felizmente, também o fenômeno inverso: mais e mais Argentina, México, empresas chilenas, colombianas e peruanas, entre outros, com produção de bens voltados para o mercado brasileiro.
Ainda assim, é claro que precisamos ir muito mais longe. Devemos acelerar a integração, aprofundando e ampliando. As perspectivas imediatas, certamente não são o suficiente para cumprir essa tarefa. Tenho salientado que precisamos de um pensamento verdadeiramente estratégico, que aborda os desafios da integração e de grandes perspectivas futuras, propondo ideias corajosas e inovadoras. Devemos ir além dos governos, embora sejam essenciais. A integração é uma meta maravilhosa que só terá êxito se a sociedade civil for comprometida com toda nossa região, os sindicatos, as empresas, as universidades, igreja e juventude, unidos nesse processo.
É essencial que tenhamos o apoio público para este processo. Devemos deixar claro para todos o quanto se pode ganhar em soberania política e econômica, igualdade social progresso cultural e científico se unirmos nossos destinos.