História: Um mês depois EUA já sabiam que atentado do Riocentro foi organizado pelos militares

História: Um mês depois EUA já sabiam que atentado do Riocentro foi organizado pelos militares

Relatórios da inteligência americana que estão no Arquivo Nacional no Rio informam que ataque em 1981 partiu dos próprios militares brasileiros.

Internacional -, Um relatório da inteligência americana que está no Arquivo Nacional no Rio de Janeiro mostra que, um mês depois do atentado do Riocentro, os Estados Unidos já tinham indícios de que o ataque tinha sido organizado pelos próprios militares brasileiros, e não por grupos de esquerda, como o governo militar alegou na época. Um dos objetivos do atentado seria atrasar a abertura política.

O relatório de integrantes da inteligência americana, baseados em Brasília, descreve as circunstâncias do atentado do Riocentro e discute o nível de participação de integrantes do governo militar. No canto direito de uma das páginas, um carimbo revela que o documento chegou ao Departamento de Defesa americano, em Washington, no dia 29 de maio de 1981.

Um mês antes, no dia 30 de abril, cerca de 20 mil pessoas se aglomeravam em um centro de convenções na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o Riocentro. Eram as festas do Dia do Trabalho. Já passava das 21h quando uma bomba explodiu um carro Puma. Dentro dele, o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que morreu, e o capitão Wilson Luís Chaves Machado, que ficou ferido. Os dois eram integrantes do DOI-Codi.

Ainda naquela noite, foi registrada uma segunda explosão: na subestação de força do Riocentro. Esse episódio desencadeou uma crise no governo Figueiredo. Quais os motivos das bombas e por que elas estavam dentro do carro daqueles militares? O caso nunca foi resolvido na Justiça.

Diz o relatório: “Não restam dúvidas de que o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que foi morto, e o capitão Wilson Luís Chaves Machado (…) provocaram o ataque a bomba e não foram as vítimas. É nítido que os dois, como membros do DOI-Codi, agiram sob ordens superiores no momento em que a bomba explodiu acidentalmente no carro” e que o diretor do Serviço Nacional de Inteligência e o comandante do Exército provavelmente sabiam de todos os detalhes da bomba no Riocentro.

O serviço de inteligência dos Estados Unidos não expõe, no entanto, o nível de responsabilidade do então presidente João Figueiredo. Afirma que “ele não precisa necessariamente ter se envolvido de alguma forma com as ações do Exército nestes incidentes”.

Os agentes americanos também relatam a tática do governo Figueiredo em simular um clima de normalidade. “O governo tentou afastar a possibilidade de uma crise prometendo publicar os resultados da investigação 60 dias depois do episódio, mantendo as negociações, visitas presidenciais e tentando preencher o noticiário com qualquer outro assunto que não fosse a discussão ou especulação sobre a bomba no Riocentro”, afirma.

O documento está guardado no Arquivo Nacional. Ele chegou ao Brasil em meados de 2015, já depois da conclusão dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que investigou graves violações aos direitos humanos, principalmente durante o regime militar. Além dele, outros 715 documentos foram encaminhados, em três lotes, pelo governo Obama e estão sendo analisados pelos pesquisadores do Arquivo Nacional.

A história tenta resolver o que a Justiça não conseguiu. O atentado do Riocentro já completou 37 anos. O Ministério Público denunciou, em 2014, seis nomes ligados ao Exército, por terem planejado o ataque minuciosamente. Mas a ação penal está trancada na Justiça Federal do Rio de Janeiro e aguarda recurso no Superior Tribunal de Justiça.

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