Em crise econômica e social, Venezuela vive um domingo de eleição e Maduro  é favorito à reeleição

Em crise econômica e social, Venezuela vive um domingo de eleição e Maduro  é favorito à reeleição

Falta de adversários de peso e abstenção devem favorecer reeleição de Maduro na Venezuela. Diversos países e União Europeia já anunciaram que não irão reconhecer legitimidade da votação.

Venezuela – Boicotada pela maioria da oposição, sem reconhecimento da comunidade internacional e sob forte suspeita de manipulação governamental, uma nova eleição presidencial será realizada neste domingo (20) na Venezuela.

E, apesar de contar com um índice de rejeição de mais de 75%, o presidente Nicolás Maduro não deve enfrentar grandes dificuldades para se reeleger e continuar no cargo que ocupa desde 2013, após a morte de Hugo Chávez.

Embora 20,5 milhões de pessoas estejam aptas a votar nos 14.500 centros que estarão abertos neste domingo, as sensações de desesperança e desconfiança são generalizadas no país.

Cerca de 44,3% dos consultados porta a porta se mostraram inclinados a não participar das eleições, diante dos 28% registrados em janeiro em uma pesquisa por telefone deste centro de estudos com sede em Washington.

Cerca de 49,8% consideram que os resultados anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não seriam críveis, 10 pontos percentuais a mais do que em janeiro.

A eleição presidencial estava inicialmente prevista para o fim deste ano, mas em 23 de janeiro a Assembleia Nacional Constituinte anunciou que ela seria antecipada para uma data anterior a 30 de abril, depois fixada em 22 de abril.

Mais tarde, porém, houve um adiamento para a segunda quinzena de maio.

Campanha

Apesar de tudo, Maduro cumpriu uma intensa agenda de campanha eleitoral e foi cauteloso quanto a um discurso de vitória certa antes da hora.

E, mesmo com a grave crise econômica e política do país, o presidente participou de animados comícios diariamente, nos quais prometeu “uma revolução na economia”cantou e dançou ao lado de artistas populares na Venezuela e até do ex-jogador argentino Diego Maradona.

Maduro confirmou oficialmente sua candidatura à reeleição em 27 de fevereiro. Naquele dia, com funcionários de sua confiança, visitou o túmulo do líder socialista Hugo Chávez (1999-2013), antes de se encaminhar para a sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para entregar os documentos de inscrição.

“Este é o plano da pátria 2025, que é o aprofundamento do caminho e o legado de nosso amado comandante Hugo Chávez (…) na direção da prosperidade econômica”, declarou na ocasião.

Boicote e outros candidatos

Assim que as eleições foram anunciadas, a oposição avisou que iria boicotar o pleito. “Não contem com a Mesa da Unidade Democrática nem com o povo para aprovar o que, até agora, é apenas um simulacro fraudulento e ilegítimo de eleição presidencial”, afirmou o coordenador político da MUD, Ángel Oropeza, em entrevista coletiva em 21 de fevereiro.

De qualquer forma, os dois maiores rivais de oposição de Maduro estariam impedidos de concorrer ao cargo: Leopoldo Lopez está em prisão domiciliar e Henrique Capriles está impedido de se candidatar a qualquer cargo por um período de 15 anos por conta de acusações de má conduta quando era governador.

No entanto, o oposicionista Henri Falcón furou o boicote e decidiu se candidatar. Falcón, militar da reserva e dissidente chavista de 56 anos, é o candidato do Movimento ao Socialismo (MAS, esquerda).

“Consideramos que é imprescindível participar. Em um país onde o regime tem 80% de rejeição, é possível vencer, apesar das armadilhas e dos obstáculos”, declarou. Segundo Meléndez, presidente do MAS, em 26 de fevereiro, ao anunciar a candidatura.

Falcón, advogado, ex-prefeito e governador do estado de Lara entre 2008 e 2017, foi ligado ao movimento que levou Hugo Chávez ao poder em 1999, mas rompeu com o “chavismo” em 2010 mediante uma carta aberta na qual denunciou ter sido alijado por denunciar os erros da chamada “revolução bolivariana”.

Além de Falcón, apresentaram candidaturas à presidência o pastor evangélico Javier Bertucci e o engenheiro Reinaldo Quijada.

Legitimidade

Países como Chile, Argentina e Espanha já afirmaram que não irão reconhecer as eleições presidenciais venezuelanas, além da União Europeia.

Em 2 de maio, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou: “Vejo a experiência da Assembleia Constituinte na Venezuela, eleita de forma completamente fraudulenta, como fraudulentas serão, se forem realizadas, as eleições de maio na Venezuela, que o Chile, é claro, não vai reconhecer”.

Antes, no dia 10 de abril, o presidente argentino Mauricio Macri já havia afirmado algo semelhante, durante uma entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy.

Mesmo poucos dias antes da votação, continuaram os pedidos de suspensão da eleição. Em 7 de maio, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, falou sobre o assunto em uma sessão protocolar especial do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington. “Urgimos (ao presidente Nicolás) Maduro e a seu governo que suspenda essa fraude de eleições e organize eleições reais”, disse. “Será uma eleição falsa com um resultado falso”, apontou.

Uma semana depois, no dia 14, o Grupo de Lima, do qual fazem parte 14 países – inclusive o Brasil – fez “um último apelo ao governo venezuelano para suspender as eleições gerais previstas para o próximo 20 de maio”, disse o chanceler mexicano, Luis Videgaray, durante coletiva de imprensa celebrada após reunião do grupo na Cidade do México.

Em abril, o Grupo de Lima já havia lançado uma declaração conjunta, na qual exigia na Venezuela “eleições presidenciais com as garantias necessárias para um processo livre, justo, transparente e democrático, sem presos políticos, que inclua a participação de todos os atores políticos venezuelanos, e ratificam que eleições que não cumpram com essas condições não terão legitimidade e credibilidade”.

Observadores internacionais

Para tentar dar maior ar de legitimidade, a autoridade eleitoral venezuelana convidou a União Europeia (UE) para participar como observadora nas eleições presidenciais.

A pedido dos principais candidatos – o presidente Nicolás Maduro e o opositor Henri Falcón -, em 19 de fevereiro o CNE também solicitou ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que enviasse observadores para as eleições.

“Estamos esperando a resposta das Nações Unidas, que já declarou que não pode vir porque não faz parte de seus procedimentos”, assinalou a funcionária, referindo-se à falta de uma resposta formal da ONU.

A oposição, além de boicotar as eleições, pediu que a ONU não participe do processo, para evitar legitimar uma eleição que diz ser manipulada.

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