Cheia do rio Madeira ameaça abastecimento de água em Rondônia

Porto Velho, RO – A cheia recorde do Madeira e a expectativa de que a cota do rio alcance 19,15 metros está afetando seriamente o abastecimento de água.

As alagações contaminam os poços amazônicos e tubulares utilizados pela população ribeirinha e o superintendente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Ivo Benitez, alerta os moradores da região para que evitem beber água sem tratamento. Por outro lado, o sistema principal de captação de água de Porto Velho está ameaçado de alagação nas proximidades de Santo Antônio. A situação vem sendo monitorada de perto e ontem um grupo de trabalhadores da Santo Antônio Energia (SAE) trabalhavam para isolar a área com uma barreira de pedras.

A situação também é crítica no distrito de Abunã, onde o rio já se aproxima da parte mais alta da estação de tratamento, composta de três tanques, onde é feita a floculação, decantação e desinfecção da água. Nos municípios de Guajará-Mirim e Nova Mamoré, também severamente atingidos pela cheia do Madeira, “a situação está sob controle”, de acordo com o diretor de técnico operacional, Nélson Eduardo Gomes Marques, sendo que em Nova Mamoré foi necessário fazer uma barreira com sacos de areia para isolar o sistema.

Na estação de captação de Santo Antônio, a maior preocupação dos técnicos, neste momento, é evitar que os respingos provocados pelos banzeiros molhem os motores. A casa que abriga o sistema está isolada por uma parede de ferro e foi feita uma barreira de sacos de areia, mas a água do rio continua subindo. Ontem, o sistema estava a 40 centímetros da água. A estação é formada por dois conjuntos de motor e bomba, de 350 CV. Com capacidade de captação de 600 litros por segundo, a estação é responsável pela captação de 80% da água distribuída na Capital.

Abunã e Nova Mutum

No município de Nova Mamoré, os equipamentos de captação de água foram atingidos pela enchente e transferidos para um local seguro. Já em Abunã, está sendo providenciada uma barreira de sacos de areia para evitar que a estação de tratamento seja alagada. Segundo Nélson Marques, no período de chuvas, quando há uma maior turbidez do rio, há a necessidade de aumentar o volume de cloro para a desinfecção da água. Já as alagações colaboram para a contaminação da rede de distribuição porque aumenta a entrada de sujeira no encanamento. Já na vila de Nova Mutum, a adutora de água rompeu pela segunda vez e foi necessário construir um novo sistema de captação.

Alternativas para não faltar água na capital

Com a possibilidade real de que a altura do rio chegue a 19,15 metros até a primeira quinzena de março, anunciada pela Defesa Civil, os técnicos da Caerd estão avaliando uma saída alternativa, que pode ser o reforço do conjunto auxiliar de captação instalada no igarapé Bate Estaca, mas para isso seria necessária a disponibilidade de bombas de sucção com características específicas, que não existem no mercado e são feitas sob encomenda. De acordo com funcionários da SAE que trabalhavam ontem no local, com a barreira de pedras, o sistema ficará a salvo da cheia.

Os técnicos também estudam a opção de retirada dos equipamentos de Santo Antônio – que pesam cerca de 900 quilos cada par de motor e bomba e teriam de ser içados do local onde estão instalados – por causa da inundação.

Adaptação

De acordo com o diretor técnico operacional Nélson Eduardo Gomes Marques, também está sendo estudada a possibilidade de adaptação de outros equipamentos. “Estamos estudando todas as possibilidades para evitar a interrupção do abastecimento”, afirma. Para Nélson Marques, a maior preocupação no momento é evitar que os motores sejam atingidos pelos respingos provocados pelos banzeiros.

Os equipamentos do conjunto auxiliar do Bate Estaca – com capacidade de 200 litros por segundo e responsáveis pela captação de 20% da água distribuída na Capital, também correm risco de alagação, mas a situação é mais favorável do que a de Santo Antônio.

Funasa alerta para contaminação dos poços

Com raras exceções, a população ribeirinha de Porto Velho utiliza poços cacimba ou tubulares para abastecimento de água e os dois tipos estão sujeitos à contaminação com as alagações.

Nos poços cacimbas ou amazônicos, a contaminação é inevitável, já no caso dos tubulares, quando eles são feitos de acordo com os cuidados técnicos exigidos, este risco fica menor. Mas essa não é a realidade da maioria dos poços construídos no município, onde as pessoas preferem pagar menos pelas construções, utilizando águas mais superficiais, informa o superintendente da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), Ivo Benitez.

A contaminação da água é apenas um dos problemas provocados pelas alagações sem precedentes registrada esse ano em Rondônia que devem preocupar os agentes de saúde pública.

“Por enquanto, a água carrega o lixo que se encontra nas regiões alagadas, mas a situação deverá ficar pior quando o rio começar a descer, deixando um rastro de sujeira e vetores de doenças, como ratos, baratas e insetos, entre outros”, considera o superintendente.

Foto: DA

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