Cantora portuguesa Raquel Tavares canta Roberto Carlos em ritmo de fado

As músicas foram gravadas em ritmo de fado

Portugal – Colonizador do Brasil, Portugal sempre foi um país que consumiu a cultura tupiniquim. Os principais artistas brasileiros são conhecidos no país, principalmente aqueles ligados à música e ao audiovisual. Apesar disso, o inverso demorou a acontecer, até que, nos últimos anos, a produção portuguesa passou a encontrar espaço no Brasil com a repercussão de nomes como Carminho e Azambujo, na música, e Ricardo Pereira, Pedro Carvalho, Maria João Bastos e José Fidalgo, na televisão.

“Durante muitos anos, foi muito difícil chegar ao Brasil. Em contrapartida, lembro de, menina, toda a minha vida, assistir às novelas brasileiras e escutar os artistas brasileiros”, conta Raquel Tavares, cantora portuguesa especializada em fado.

Essa aproximação do Brasil fez com que Raquel escutasse Roberto Carlos na infância antes mesmo de ouvir fado, o estilo mais tradicional de Portugal e do qual se tornou cantora anos depois. “Para falar a verdade, ouço Roberto Carlos desde 1988, e nasci em 1985. Ou seja, desde que me entendo por gente. Antes de ouvir falar de fado, eu já escutava Roberto Carlos. Tenho os discos dele na minha memória”, lembra, em entrevista ao Correio.

Por isso, gravar um disco com o repertório do rei foi algo natural para Raquel. Apesar de ser fã declarada de Roberto Carlos, a ideia de fazer um álbum com as músicas do artista não foi dela. Foi a própria gravadora, em parceria com o produtor Max Pierre (que trabalhou com o rei em várias oportunidades), que decidiu buscar um cantor português para homenagear Roberto. “Quando me fizeram essa proposta, eu só soube chorar”, admite. Assim surgiu o álbum Roberto Carlos por Raquel Tavares, disponível nas plataformas digitais.

O disco traz 14 faixas do repertório de Roberto Carlos. Raquel conta que chegar a esse número foi um desafio. Inicialmente, ela e Pierre destacaram 20 músicas do rei. Destas, 12 coincidiam na lista dos dois. O restante foi escolhido pela portuguesa ,que optou por canções que marcaram sua vida.

O material foi todo orquestrado no Brasil. Depois, Raquel gravou a voz em estúdio em Portugal. “Eu estava segura. Foi muito fácil cantar Roberto Carlos. Eu tinha toda a informação necessária, a alma, o amor. Eu chorava muito depois de cantar”, explica.

Desafios

Cantora de fado, Raquel teve que adaptar as canções de Roberto Carlos para o ritmo tradicional português. Ironicamente, esse foi o maior desafio da artista. Por ter ouvido o rei a vida toda e ter morado três anos no Brasil, a cantora consegue intercalar entre o português brasileiro e o português de Portugal. “O mais difícil foi cantar em português de Portugal.

Eu tinha muito presente as versões de Roberto Carlos. Tive que deletar tudo da minha memória, porque Max (Pierre) queria que eu fosse a intérprete fadista. Não queria que eu seguisse o caminho de Roberto. Mas é claro que tem a identidade do rei, seria impossível cantar Roberto Carlos sem ter a identidade dele”, analisa.

Das 14 faixas, apenas duas têm participações especiais. De tanto amor e Debaixo dos caracóis dos seus cabelos  contam com as interpretações de Ana Carolina e Caetano Veloso, respectivamente. Ana Carolina foi convidada pela própria Raquel, que a conheceu durante o tempo em que morou no Brasil. “Eu morro de vergonha, mas fiz o convite pelo WhatsApp, porque sou fã dela. Ela aceitou na hora e foi gravar. Ana Carolina é uma pessoa muito generosa e tem uma interpretação sublime”, comenta.

Já a presença de Caetano foi uma surpresa para Raquel, que recebeu o áudio do artista. “Eu sabia que Erasmo Carlos e Roberto Carlos fizeram Debaixo dos caracóis dos seus cabelos para o Caetano, no tempo em que ele ficou exilado em Londres. Sempre achei uma história linda e quando apareceu o Caetano cantando, eu achei que fosse uma pegadinha. Foi uma beleza tê-lo no disco”, acrescenta.

Samba e fado

O amor pelo Brasil nasceu ainda na infância e se fortaleceu quando Raquel morou três anos no Rio de Janeiro. Por aqui, se apaixonou pelo samba, gênero que compara com o fado. “Tem pessoas que falam que o fado é uma desgraça só. Quando comecei a verdadeiramente escutar o samba, vi que é uma música triste, como o fado. A grande diferença é que os sambistas cantam a tristeza de uma maneira feliz. Nós, fadistas, de uma maneira mais trágica”, analisa.

A portuguesa ainda aponta outras semelhanças entre os dois estilos musicais: “São de origem popular e urbana, foram feitos pelo povo e para o povo. São de harmonias simples e populares”.

A experiência no Brasil fez com que Raquel tivesse uma mudança no seu jeito de interpretar o fado. “Vim do Rio com uma paixão nova, que foi o samba. Criei muitas referências novas e trouxe isso para minha interpretação. Existe a fadista antes e depois do Rio, que se nota no meu último álbum (Raquel, de 2016), onde explorei outras musicalidades”, diz.

Duas perguntas para Raquel Tavares:

Temos visto uma aproximação da música brasileira com a portuguesa. Como você vê isso?

Toda a vida Portugal recebeu a cultura brasileira. Eu escutei todos os cantores de sucesso no Brasil nos anos 1990. Eu vi várias novelas, como Roque Santeiro, Mulheres de areia e Tieta.

Portugal começou a fazer novelas há uns 15 anos. Fico feliz por finalmente o Brasil abrir as portas para Portugal. Fico muito grata também que vocês estejam querendo receber a gente.

Você falou que sempre escutou Roberto Carlos. Chegou a conhecê-lo para fazer o álbum?

Não, eu não o conheci. Eu só espero que um dia eu possa abraçar o Roberto Carlos e agradecê-lo. Eu sei o quão difícil é chegar ao Roberto, mas tudo bem. Não tenho essa pretensão.

Só de saber que ele deu o aval, gostou do álbum e autorizou, para mim, é o suficiente. Não poderia pedir mais. Ele me acompanhou desde a minha infância e me proporciona esse momento feliz, que tem me trazido muitas alegrias.

Amazonianarede-Correio Brasiliense

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.