Cambista digital afeta mercado de ingressos

EUA – Com a temporada de apresentações e de festivais de música se aproximando nos Estados Unidos, os fãs e a indústria de shows enfrentam um inimigo comum em Nova York. E também na Rússia. E na Índia. Esse inimigo é o “bot” (nome dado a “programas robôs” que executam tarefas automaticamente).

Os bots, tradicionalmente usados por empresas de tecnologia para vasculhar a internet, agora são adotados por cambistas digitais que criam esses programas para comprar ingressos em lojas online, o que faz desaparecer instantaneamente todas as entradas para os shows mais concorridos praticamente toda semana.

Antes um problema simples enfrentado pela indústria de shows, hoje esses programas se tornaram o pior inimigo das empresas, frustrando os fãs que tentam comprar as entradas de forma correta e alimentando um mercado paralelo multibilionário.

De acordo com a Ticketmaster, bots foram usados para comprar mais de 60% dos ingressos mais procurados para alguns espetáculos. Numa ação judicial recente, a empresa que negocia a venda de todo tipo de evento acusou um grupo de cambistas de usarem esses programas robôs para adquirir até 200 mil ingressos por dia.

A Ticketmaster e a sua matriz, Live National Entertainment, intensificaram os esforços para combater os programas robôs, não só para aprimorar o sistema de venda de ingressos, mas também para melhorar sua reputação com os clientes. O resultado tem sido um jogo de gato e rato entre a empresa e os bots.

“Como ocorre no combate aos hackers, você resolve hoje o problema e eles reescrevem o código amanhã”, disse Michael Rapino, diretor executivo da Live Nation. A empresa não diz quanto dos 148 milhões de ingressos que vende a cada ano são adquiridos por meio de bots – em muitos casos, não há nem como saber. Poucos admitem usar os programas robô.

Grupos oficiais como a Associação Nacional de Negociadores de Ingressos dos Estados Unidos, que representa os maiores intermediários, condena o uso dos programas e afirma que apoia medidas para conter os cambistas digitais.

Em 2011, a Ticketmaster contratou John Carnaham, especialista da área, que solucionou um problema com fraudes em propagandas online no Yahoo, para conduzir sua operação contra os bots. Monitorando o comportamento de cada indivíduo que visita o seu site, a Ticketmaster consegue determinar a probabilidade de um cliente ser um cliente de carne e osso ou uma máquina. Por exemplo, um cliente normalmente pressiona uma série de botões a velocidades variadas e em diferentes pontos numa tela. Mas os robôs podem se trair ao clicarem rapidamente exatamente no mesmo ponto.

Uma tela na mesa de Carnaham em Los Angeles mostra o tráfego na Ticketmaster com um arco-íris de cores embaixo e manchas vermelhas no alto que representavam atividades suspeitas. Numa quinta-feira, a tela indicava que os visitantes representados em vermelho realizavam 600 vezes mais pedidos de ingressos do que aqueles que o sistema identificava como pessoas e não máquinas.

Os programas robôs não são eliminados do sistema, mas sua velocidade é controlada, eles são desacelerados, enviados para o fim da fila, ou alguns meios de interferência são acionados para dar espaço para um cliente regular.

“Não estamos tentando impedir ninguém de comprar ingressos”, disse Carnaham. “Estamos apenas nos assegurando que um cliente consiga comprar os ingressos.” / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Pacotes ilegais são vendidos por menos de US$ 15

Os programas robôs (bots) em geral são baratos e criados por programadores de software em países que estão fora do alcance da polícia americana. Rob Rachwald, da empresa de segurança FireEye, deu o exemplo de um desses sites – disponível em inglês e russo – que cobra apenas US$ 13,90 (cerca de R$ 28,50) para fornecer 10 mil senhas de “captchas” – aquelas sequências de letras e números quase inelegíveis usadas para testar se um cliente que acessa o site é humano.

Em janeiro, a Ticketmaster trocou a maior parte dos seus códigos captcha por versões novas e mais sofisticadas. A empresa também começou a adotar um sistema para smartphones e tablets que pode eliminar o uso dos testes com código captacha completamente.

Enquanto isso, produtores de shows, gerentes de artistas e empresas que vendem ingressos dizem que os “bots” são uma presença forte, não só durante períodos de grande procura por ingressos, quando as entradas de um grande show começam a ser vendidas, mas também quando um produtor coloca poucas dezenas de ingressos extras à venda sem qualquer anúncio.

O uso dos programas é ilegal em muitos Estados, mas as leis não surtiram efeito. No mês passado, a Ticketmaster processou 21 pessoas, acusando-as de fraude, violação de direitos autorais e outros crimes, por usarem bots para buscar milhões de ingressos nos últimos dois anos. / NYT

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