A volta do herói: Ouro no raio-X, cochilo no voo e festa Bahia

O cochilo do campeão do voo

 

O cochilo do campeão do voo
O cochilo do campeão do voo

Salvador, BA – “Chegaremos em Salvador às 17h e temos o prazer de levar conosco neste voo o nosso primeiro campeão olímpico do boxe”. O recado do comandante foi a senha para os aplausos efusivos. Robson Conceição se levantou, acenou com as mãos e agradeceu com um sorriso no rosto. A cadeira 11A, a da janela, levava de volta para a Boa Terra não só mais um baiano, mas um herói nacional.

 

Com o nome gravado na história do país, o “Orgulho de Boa Vista” não quer acordar do sonho que o esporte lhe proporcionou e viveu mais um dia inesquecível e cansativo depois da conquista. Teve direito a muita tietagem, curiosidade do público e ansiedade a cada instante.

Como o piloto lembrou no voo do Rio para Salvador, Robson é o primeiro pugilista do Brasil a conquistar uma medalha de ouro no boxe em toda a história das Olimpíadas. Um feito e tanto. Uma vitória que o alçou ao posto de ídolo e que tornou um simples voo de volta para casa uma aventura nunca vivida.

Acostumado a passar despercebido, o baiano agora chama atenção mesmo que não queira. Empurrando seu carrinho para o check in, ouvia congratulações, dava apertos de mão, fazia selfies e assinava autógrafos. A medalha, escondida no bolso, era o plano para que conseguisse seguir depressa. De nada adiantou. Mas ele gosta do momento.

– É muito bom ter todo esse reconhecimento. É você ver que o seu trabalho valeu a pena, teve essa recompensa. Fico feliz com a visibilidade que o boxe está tendo e de agora ser um exemplo para as pessoas. Com certeza tenho vivido alguns dos momentos mais intensos da minha vida nessas últimas semanas – destacou o boxeador.

Medalha no Raio-X

Raio X do Aeroporto, desccober o ouro olimico
Raio X do Aeroporto, descobre o ouro olímpico

Da Vila Olímpica da Rio 2016 até a chegada em casa, em Boa Vista de São Caetano, com uma festa o esperando, Robson não desgrudou da medalha de ouro conquistada na terça-feira. Láurea no bolso para tentar não chamar tanta atenção, só se distanciou da sua preciosa para passar pelo raio-x, uma obrigação para quem carrega consigo 500g do metal mais importante do pugilismo brasileiro.

Sua passagem pelo terminal de embarque fez a fila se desorganizar. Uma pequena confusão se formou. Ninguém se apressava para entrar nas aeronaves. Todos queriam tietá-lo: “Olha o cara do boxe”; “É o cara da medalha de ouro?”; “Será que é ele mesmo?”.

– Deixei a medalha no bolso para não chamar tanta atenção, se não perdia o voo (risos). Mas no raio-x não tem jeito, não é. Tirei ela do bolso rapidinho, passei ela é já peguei do outro lado. Não pode desgrudar – brincou Robson, sendo mais uma vez parabenizado, agora pelos funcionários do Aeroporto do Galeão, os únicos a verem sua medalha sem o brilho dourado e sim com o preto e branco do sistema de segurança.

No rosto, além das marcas do combate e do sono de quem não dorme há quase uma semana, simpatia de sobra. Robson atendeu a todos, recebeu as mais diversas formas de parabéns e retribuiu com a maior paciência possível. Dentro do avião, o baiano sentiu o cansaço. Os dias de exposição após a medalha parecem tê-lo cansado  mais que o francês Sofiane Oumiha. Bastou a decolagem para que ele apagasse.

– Eu não lembro a última vez que tive aquele sono de verdade, profundo. Desde que começaram as lutas eu não durmo, mas sabe aquela coisa, fica se revirando, não descansa. E depois que ganhei a medalha, não dormi mais que uma hora por dia. Não sei nem se vou comer o mocotó que está me esperando. Não vejo a hora de descansar. Mas é um momento único e preciso aproveitar isso -brincou Robson, que antes do título olímpico havia disputado duas Olimpíadas e perdido sempre na primeira luta.

Curiosidade no voo

A chegada do pugilista olimpico, em Salvador
A chegada do pugilista olimpico, em Salvador

A correria de um campeão olímpico é tanta que o lanche da aeronave foi a primeira refeição do dia. Foi só por isso que ele acordou. Não é costume de Robson, mas desta vez não se fez de rogado: “Vou comer sim”. Barriga cheia, dormiu de novo. Por uma hora, talvez tenha sonhado com a vitória que lhe rendeu o ouro. Ou com a bela recepção que o esperava em Salvador.

Enquanto cochilava, uma moça sentada ao lado era sistematicamente abordada pelo marido, que tinha certeza que se tratava do campeão: “É ele sim, eu tenho certeza, não é?”.

Mosaico com Robson Cinceição
Mosaico com Robson Cinceição

Na cadeira de trás, um casal de turistas não só tinha certeza que era Robson como já fazia planos para a foto assim que a aeronave aterrissasse. Sonolento, o baiano comia enquanto ganhou uma surpresa do piloto do avião

Enquanto avisava sobre o percurso até Salvador, ele pediu aplausos para o campeão olímpico e disse ser uma honra levá-lo para casa. O boxeador de mais uma mordida no sanduíche, se levantou e agradeceu ao público.

Minutos depois, voltou a cochilar. Só foi interrompido quando a aeromoça veio com um recado. Além do parabéns público, o comandante queria uma foto. Foi atendido no solo.

Apesar da exaustão, era possível perceber no rosto de Robson a ansiedade pelo que estava por vir.

Aeronave no pátio, o pugilista não passava vaselina no rosto e nem colocava a bandagem nas mãos. Mas era como se fosse subir ao ringue. Ainda dentro do avião, membros da Infraero o acompanharam. Era a senha de que a explosão estava próxima.

Ao passar pelo desembarque, pelo vidro recebia aplausos de quem estava perto de voar. Os metros até a escala que o levou até a mulher Erika e a filha  Sophia pareciam uma eternidade, tantos eram os pedidos por fotos e parabéns. Minutos depois, a porta do desembarque se abriu e a capital da Bahia recebeu o seu filho ilustre. Faixas, abraços. Foi tudo como Robson esperou.

– Compensa todo o cansaço. Emoção muito grande. Os amigos, a família. A minha filha Sophia, que faz dois anos nessa sexta-feira. Tudo que faço é por ela.

Um sonho

Assim que o avião tocou o solo, o boxeador conectou-se à internet. Falou com a família. E recebeu fotos do que lhe esperava. Na rápida conversa antes de descer, lembrou  do encontro que teria na sede do governo estadual. E o sonho do próprio projeto social veio a cabeça.

O menino que aprendeu o pugilismo primeiro para não fazer feio nas brigas do Carnaval e depois para mudar a vida da mãe e da família, espera que seu feito traga benefícios para o esporte. Não apenas publicidade.

– Eu ajudo um projeto social. Quando posso e tenho tempo, também vou lá dar aulas para as crianças. Mas eu tenho o sonho de ter um projeto social meu, de criar um pouco instituto e de ajudar mais crianças. Eu espero conseguir realizar isso e ter apoio para   levar adiante – diz o pugilista.

Depois de todas as emoções vividas nos últimos dias, Robson agora que dormir mais do que as duas horas em que cochilou no avião. Vai tirar algumas semanas de férias para ficar com a família. O descanso, contudo, não deve demorar tanto.

O pugilista ainda desconversa, mas já surgiram propostas do boxe profissional, mesmo caminho traçado pelos Irmãos Falcão, Esquiva e Yamaguchi.  Se isso acontecer, porém, não quer dizer que Robson esteja fora de Tóquio 2020. Lá, ele estaria com 31 anos e a Associação Internacional de Boxe (Aiba) liberou os profissionais nos Jogos Olímpicos.

Amazomianarde-GE

 

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